Na semana passada, um fato relevante ocorreu na Coreia do Norte. O país iria apresentar publicamente um destróier que se tornaria o maior navio de guerra da nação. O lançamento seria com grande alarde e todo tipo de representação política. No entanto, assim que tocou a água, o navio afundou e acabou tombando de lado. Kim Jong-un não conseguiu esconder seu espanto e prometeu consertar a embarcação no curto prazo.
As imagens de satélite mostram que estão tentando, embora com resultados mistos.
Hipótese dos balões
Imagens de satélite no fim de semana revelaram o aparecimento de aparentes balões ao redor do navio. Especialistas sul-coreanos e ocidentais especulam que eles podem ter diversas funções: evitar novas infiltrações de água, impedir o reconhecimento por drones e até mesmo aliviar o peso que recai sobre a parte ainda encalhada no cais.
Os objetos apresentam uma forma que lembra pequenos dirigíveis ou balões de ar quente e alguns parecem estar equipados com estabilizadores. Embora não tenham sido detectadas estruturas de flutuação tradicionais como as usadas pelos Estados Unidos (por exemplo, câmaras de ar sob o casco), os analistas acreditam que os recursos técnicos norte-coreanos limitam as opções de resgate disponíveis. A posição do navio, preso entre a terra e o mar, agrava ainda mais o desafio técnico, já que qualquer tentativa de endireitá-lo pode fraturar a quilha e condenar a embarcação ao desmanche total.
Avanço precário
As imagens de satélite captadas pela Planet Labs no início desta semana mostram uma grande mudança. A fragata norte-coreana da classe Choi-Hyun parece finalmente endireitada e agora flutua sozinha no porto de Chongjin. Esse avanço representava uma conquista modesta após o vexame público que o acidente significou para Kim Jong-un, que presenciou pessoalmente o desastre.
Embora Pyongyang tenha afirmado inicialmente que os danos eram menores e que o reparo levaria “uns dez dias”, a complexidade da situação, a falta de instalações adequadas e a pouca transparência do regime geram dúvidas sobre o verdadeiro estado da embarcação. Especialistas dos projetos Beyond Parallel e 38 North confirmaram que as primeiras operações de salvamento foram concluídas, mas alertam que ainda há um longo caminho a percorrer antes que a fragata possa ser considerada restaurada ou pronta para ser incorporada à frota.

A imagem mais recente mostra a embarcação (com cerca de 5.000 toneladas) flutuando no centro do porto, cercada por outras embarcações auxiliares e com o que parecem ser, novamente, alguns balões de salvamento e rampas temporárias ao seu redor. Embora o navio tenha recuperado uma posição vertical, ele apresenta uma leve inclinação para bombordo, o que indica que a água ainda está sendo bombeada para fora e a estrutura ainda está sendo estabilizada.
Não foi possível avaliar com precisão os danos no casco devido à resolução limitada das imagens, mas especialistas como Jennifer Jun, do CSIS, insistem que o monitoramento contínuo será fundamental para avaliar o progresso real dos trabalhos. Considerando que o estaleiro de Hambuk, em Chongjin, não conta com um dique seco funcional, é possível que a embarcação precise ser transferida para outra instalação, caso se confirme um dano estrutural grave — algo que ainda não pode ser descartado.
Pressão política e propaganda
Sem dúvida, a pressão política imposta por Kim Jong-un (que ordenou que o navio fosse reparado antes da próxima sessão plenária do Comitê Central, no fim de junho) acrescentou um componente de urgência quase teatral aos esforços de recuperação. No entanto, tanto analistas quanto fontes militares sul-coreanas consideram extremamente improvável que esse prazo possa ser cumprido.
O motivo? A ausência de uma avaliação pública crível do estado da embarcação e a insistência do regime em projetar eficiência a todo custo contrastam com as evidências visíveis: lonas azuis cobrindo seções danificadas e a suspeita de deformações internas na quilha, as quais poderiam comprometer de forma irreversível a integridade do casco.
A fragata acidentada é a segunda unidade de sua classe, após o lançamento do Choi Hyon em abril, e representa a tentativa mais ambiciosa da Coreia do Norte de modernizar seu poder naval. Equipadas com diversos sistemas de armas, essas embarcações pretendem ser uma resposta simbólica à presença naval da Coreia do Sul e dos Estados Unidos na região.
No entanto, o fracasso no lançamento e os trabalhos de resgate improvisados expuseram as limitações técnicas e logísticas do país. Como aponta o 38 North, a falha provavelmente se deveu a um mau funcionamento do mecanismo de lançamento, que deixou o casco preso pela proa em terra enquanto a popa se precipitava na água. O resultado foi uma embarcação encalhada em um ângulo altamente instável — o pior cenário possível para qualquer operação de resgate naval.
Embora o regime possa proclamar ter alcançado um avanço ao colocar novamente a fragata para flutuar, a realidade operacional parece muito mais incerta. A falta de provas visuais sobre o estado do casco, a ausência de um dique seco adequado e a pressão política para cumprir prazos irreais desenham um panorama no qual o navio pode acabar sendo mais útil como símbolo propagandístico do que como elemento funcional da marinha norte-coreana.
Por enquanto, a embarcação permanece em um limbo flutuante: endireitada, ou quase, e sem estar operativa. E, sobretudo, exposta ao olhar internacional, apesar de todas as tentativas de encobrir sua história acidentada e seu progresso.
Imagem | Sentinel-2, CSIS/Beyond Parallel/Maxar
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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